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*Graduada em Nutrição, Araçatuba 2007. Especialista em Nutrição Funcional (VP São Paulo, 2010), Nutrição Ortomolecular (FAPES, São Paulo 2012) e Fitoterapia Funcional (VP Campinas, 2014). Participação ativa em Congressos e Cursos da área Funcional. *Atendimento em consultório desde 2008. Clínica Portinari - 18 3305-5838

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

GELADEIRA TURBINADA – COMENTÁRIOS SOBRE MATÉRIA PUBLICADA NA REVISTA CORPO A CORPO




A reportagem publicada em edição da revista Corpo a Corpo objetiva orientar o leitor a fazer a melhor escolha no momento das compras e cita vinte alimentos que são considerados indispensáveis a quem quer manter a saúde e, claro, a beleza.

São citados o poder diurético do pepino e da alface, o potencial antioxidante do licopeno dos tomates, a importância das gorduras poli-insaturadas e dos minerais antioxidantes das oleaginosas, e a proteção de peso dos compostos bioativos do brócolis contra o câncer, além da sua grande oferta de cálcio.

Também são lembrados o caráter proteico livre de gorduras saturadas do tofu, a característica antioxidante de frutas como amora, framboesa, cereja, morango e maçã, a presença de ômega-3 nos peixes, e o potencial das fibras da aveia em auxiliar no controle da glicemia, do colesterol, da pressão arterial e do trânsito intestinal.

Não poderiam deixar de estar presentes a cenoura e a abóbora, com toda a sua oferta de beta-caroteno e seus benefícios imunológicos e antioxidantes; ainda, o pão integral, com sua oferta energética, de fibras e de minerais, e nem a linhaça, com seus inúmeros motivos para ser considerada indispensável, como sua grande fonte de fibras, compostos bioativos e antioxidantes, sem falar no ômega-3 que não foi citado.

Para fechar com chave de ouro, a matéria relembra a laranja e sua grande quantidade de vitamina C e fibras, e o azeite de oliva, com todos os benefícios das gorduras monoinsaturadas.

No entanto, a reportagem cita o leite de vaca como indispensável, relatando ainda ser a melhor fonte de cálcio, e ainda seria capaz de prevenir a osteoporose. Neste contexto também se encaixa um de seus derivados, o iogurte, descrito como prático, saudável e de fácil digestão, uma vez que é fermentado.

Como já é bem salientado por inúmeros estudos científicos, o leite de vaca pode ser a maior fonte de cálcio, porém, com certeza, não é a melhor, devido à baixa biodisponibilidade do mineral. Além disso, já é consenso que a osteoporose não significa carência exclusiva de cálcio, podendo até não ocorrer deficiência deste mineral; muitas vezes a causa pode estar relacionada ao status negativo de magnésio, formador da estrutura trabecular óssea. Vale lembrar que, além da concentração de magnésio no leite de vaca ser pequena, a capacidade deste alimento de gerar resíduo ácido sanguíneo leva à resposta fisiológica de remanejar magnésio ósseo para o sangue, na tentativa de manter a homeostase ácido-básica. Sendo assim, além de não ofertar cálcio nem magnésio, o consumo de leite de vaca ainda pode propiciar a retirada de magnésio do osso, favorecendo a desmineralização óssea.

Outro fator a ser considerado é a composição protéica. Além de ser fonte de lactoalbumina e caseína, o leite de vaca contém a beta-lactoglobulina, somente digerida por animais que possuem enzimas na configuração beta, como no caso dos ruminantes, ao contrário dos seres humanos, que possuem enzimas na configuração alfa. Em indivíduos com a saúde intestinal prejudicada, onde há hiperpermeabilidade da mucosa, pode ocorrer absorção de macromoléculas não digeridas, entre elas a beta-lactoglobulina, que poderá desencadear reação alérgica tardia, processo inflamatório e desenvolvimento de doenças crônicas como a obesidade.

Ao mencionar a gelatina, a reportagem salienta o fato de ser prática e saborosa, conter colágeno, água e ser isenta de gorduras e carboidratos. O que a matéria não revela é a quantidade enorme de xenobióticos presentes em alimentos industrializados como a gelatina, entre os quais estão os adoçantes artificiais, corantes e conservantes. Ainda, há diversas opções que são riquíssimas em açúcar.

Já é bem documentado na literatura a capacidade dos xenobióticos de se alojar em células do tecido adiposo e o caráter metabólico deste tecido em produzir células inflamatórias, levando a inflamação e favorecendo o desenvolvimento da obesidade. Sem falar no potencial dos adoçantes artificiais de aumentar o número de receptores intestinais de glicose, favorecendo a maior absorção do nutriente e o surgimento da obesidade. Sendo assim, opções mais saudáveis são as gelatinas de origem vegetal, extraídas de algas, como a agar-agar, incolor e sem sabor, para serem misturadas a sucos de frutas naturais.

Além dos aspectos negativos descritos anteriormente, outro fator presente a todo momento na reportagem é a preocupação excessiva com o valor calórico dos alimentos. Com a identificação do caráter inflamatório da obesidade, o tratamento nutricional não pode mais ser focado apenas na contagem de calorias, uma vez que, por esse raciocínio, a ingestão de um refrigerante zero caloria seria mais benéfico que um suco de frutas natural. Graças aos avanços das pesquisas vemos que isso não é verdade. O teor tóxico de alguns produtos alimentícios, mesmo que reduzidos ou isentos de calorias, pode favorecer mais o acúmulo de gordura que o valor calórico elevado de outros alimentos, que contêm propriedades nutricionais importantes como anti-inflamatórias e antioxidantes.

Quem sofre com isso, segundo a matéria, é a banana, que leva fama de “inimiga da dieta” por ser muito calórica, devendo ser consumida com “moderação”. Além de ser fonte energética, de fibras e de micronutrientes, a polpa da banana, quando verde, é fonte de amido resistente, excelente prebiótico natural, que favorece o crescimento de bactérias intestinais benéficas, auxilia no tratamento da disbiose intestinal e, consequentemente, na prevenção de doenças crônicas, como a obesidade.

Pode parecer um contrasenso, mas a preocupação excessiva com o valor calórico da dieta pode levar à privação da ingestão de alimentos saudáveis anti-inflamatórios e antioxidantes, e à liberação do consumo de alimentos que favorecem o acúmulo de gorduras.

A idéia da reportagem de auxiliar o leitor a se alimentar de forma saudável, começando por informar as melhores opções para a despensa de casa é muito válida, porém é importante estimular o consumo de alimentos, em detrimento de produtos alimentícios. Ainda, cabe ressaltar a importância de orientações nutricionais individualizadas promovidas por um nutricionista.



fonte: vponline.com.br

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